terça-feira, 24 de junho de 2014

Valenças, terras e escravos

Texto de Ivete M. Cintra (1)


Ensina a história que o povoado de São Bento originou-se  entre três propriedades: Santa Cruz, São Bento e Poço  Doce.

"Poço Doce é sítio antigo
São Bento é mais antigo
Mas São Bento pra ser santo
Na Santa Cruz foi remido."


À  época do início da povoação os registros comprovam que residiam em Poço Doce: Joaquim Benevides e José Venâncio Benevides.  Compraram ou herdaram?  Também não sabemos.

Da relação de bens descrita em 1822, no inventário procedido por morte de Santos Coelho, um dos homens mais ricos da região, constam, entre outros bens, a fazenda Poço Doce (ribeira do Una) de acordo com o livro "Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres – José de Almeida Maciel – pág. 187, e, ainda segundo Nelson Barbalho – Cronologia Pernambucana, nº 12, pág. 196, "516 escravos, sendo 140 crioulos nascidos no Brasil, 73 de Angola, 69 do Congo, 53 de Moçambique, 44 de Cabinda, 31 de Rebolo, 25 de Benguela e outros mais".

Joaquim Papai de Paiva, casado com dona Maria do Remédio Cavalcanti (anteriormente mencionados) eram proprietários também em Poço Doce.

A Fazenda Velha de São Bento, pertencente ao Pe. Valença, foi comprada na década de 20  (1820)  ao Capitão Antônio Machado Dias, estabelecido em Correntes, em 1826, e que quando  ali chegou levava 100 escravos. Será que na venda da fazenda entrou também algum escravo?

O testamento do Pe. José Rodrigues Valença, lavrado em 1854, registra seis escravos doados ao filho João Ermiliano de Seixas Valença  e aos netos, filhos de sua filha Maria da Anunciação Valença, casada que foi com José Afonso de Macedo, ambos falecidos em 1856, vítimas de cólera-morbus.

Em todos os inventários procedidos por falecimentos de filhos do Capitão José Rodrigues Valença, existentes nos arquivos dos cartórios de Garanhus e São Bento, constam escravos.

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Fonte: Cintra, Ivete de Morais. Gado Brabo de Senhores e Senzalas (pág. 32). Coleção Tempo Municipal,  vol. 11 . FIAM / Centro de Estudos da História Municipal. Recife. 1988.



José Rodrigues Valença e filhos


A chegada dos Valença em São Bento do Una/PE


De 1815 a 1822, as Capitanias do Nordeste foram agitadas pelos patrióticos dos brasileiros em favor da independência.Pombal e Souza, na Paraíba, ficam no vale do Rio do Peixe ou das Piranhas, que vai desaguar no litoral do Rio Grande do Norte, com o nome de Açu. Essa região paraibana do Rio do Peixe também esteve em ebulição e aí habitavam muitos portugueses que se retiraram de lá e vieram para o Brejo da Madre de Deus, Cimbres e Pesqueira.


Pouco antes de 1830, o lugar SANTA CRUZ, onde ainda não chegara o rumor patriótico, veio do Brejo da Madre de Deus, José Rodrigues da Cunha, por intermédio do seu velho conhecido José Venâncio de Benevides Falcão. Ele deixou o cognome de Cunha e juntou ao seu nome Valença, cidade portuguesa donde viera.

O clã Valença


José Rodrigues Valença, casado com Cosma Caluête, natural do Rio do Peixe, com toda sua família, espalhou-se pelo vale sossegado do rio Uma. Ao sair do rio do Peixe com sua família, já estavam esgotados os seus recursos. No Brejo da Madre de Deus, foi agravada a sua situação financeira com a seca de 1825 a 1832. Aqui chegou pobre. Foram doze os seus filhos:


1 -  Pe. José Rodrigues Valença, nascido em 1794. Em 1854 foi residir na fazenda Liberalzinho, cerca de trinta quilômetros de São Bento, onde construiu casa, oratório e açude. Faleceu no
dia 6 de setembro de 1870, com 76 anos de idade, e foi sepultado no cemitério de São Bento.

2 – Francisco Rodrigues Valença, casado com Maria da Conceição Valença. Tiveram os seguintes filhos:


1 (II) - Francisco Candido
2 (II) - José Camilo
3 (II) - João Rodrigues
4 (II) -  Zebina
5 (II) - Cândida Emília, que casou com o viúvo Bento da Silva Valença, tendo este falecido no dia 2 de abril de 1856, deixando do casal, dois filhos: Àguida, de quatro anos de idade, e Honório, de dois anos de idade. O tutor destes foi seu avó, por ter se casado novamente sua mãe. Moravam na propriedade Condado.

3 -  Joaquim Rodrigues Valença, era casado com Paulina de Holanda Valença e morreu da queda de um cavalo. Foi o pai do Tenente-Coronel Luiz Paulino de Holanda Valença.
     
       Nota minha:  O casal teve outros filhos:
                             - José de Olanda Valença, c.c. Anna de Olanda Cavalcante, em 1852.
                            -  Thereza de Jesus de Hollanda Valença, c.c. Antônio Paulino de Holanda Cavalcante.  Estes são pais de JOSÉ DE HOLANDA CAVALCANTE, c.c. CLOTILDE DE HOLANDA VALENÇA (meus bisavós)
                            -  Antônio Paulino  de Hollanda Valença

4Teodoro Rodrigues Valença, casado com Luiza Valença, sua sobrinha – filha de Ana.

5Antônio Rodrigues Valença.

6João da Porciúncula Valença, casado com Antônia Valença.

7Maria de Jesus Valença, casada com o viúvo Bento José Alves de Oliveira, irmão de João Bento de Oliveira, Antônio Bento de Oliveira e Joaquim Dantas de Oliveira. Maria de Jesus
Valença faleceu no dia 24 de junho de 1849, deixando seis filhos menores:


1 (VII) - José, de onze anos
2 (VII) - Bento, de dez anos
3 (VII) - Ana, de nove anos e que depois casou com João Bento de Albuquerque
4 (VII) - Francisco, de seis anos
5 (VII) - João, de quatro anos e
6 (VII) - Luiz, de dois anos

Bento José Alves de Oliveira, possuía uma parte da terra e uma casa de taipa, na povoação de Santa Cruz e meia légua de terra, com casa e curral de pau-a-pique, no lugar Recanto, onde morava.


8 - Josefa Valença, casada com o português João José de Araújo.

9Tereza Valença, casada com José Alves Bezerra Cavalcanti.

10Luiza de Jesus Valença, casada com seu sobrinho José Rodrigues Valença (filho de Ana). Por morte de seu esposo, em 13 de abril de 1853, obteve do imperador provisão de tutora
de seus filhos menores, em número de sete:

1 (X) - Arcelina da Silva Valença, que casou com José Camilo Valença,  tiveram os seguintes  filhos: Maria de Jesus,  Rita, Josefa,  Francisco e Antônio.
2 (X) - Maria de Jesus Valença, que casou com Leonel Bezerra Cavalcanti.
3 (X) - Tereza Benvinda, com catorze anos.
4 (X) - João, com treze anos.
5 (X) - Emília, com onze anos.
6 (X) - Luiz José, com dez anos.
7 (X) - Luiz, com nove anos.

Notas:
Moravam na propriedade Baraúnas, comprada a Antônio Carvalho de Albuquerque.
Luiza de Jesus Valença, faleceu no dia 8 de outubro de 1863, na propriedade Baraúnas.


Nota minha: Na propriedade Baraúnas  meu bisavô, José de Holanda Cavalcante, foi assassinado (1922). Lá, nasceu minha mãe, Maria de Medeiros (1924). Há muitas histórias de família ocorridas nesse sítio.

11Ana Joaquina Valença, casada com João Alves da Silva, representada por seus filhos:
           1 (XI) - Francisco Pio
           2 (XI) - Tereza, casada com Antônio Alves da Silva
           3 (XI) - José Rodrigues 
Valença
           4 (XI) - Ana Alexandrina
           5 (XI) - Luiza
           6 (XI) -  Bento da Silva Valença
           7 (XI) - Alexandrino

12Silvana Valença, casada com o português Jacinto Muniz de Almeida. São filhos do casal:
1 (XII) - Bento de Almeida;
2 (XII) - João de Almeida;
3 (XII) – José Vicente de Almeida;
4 (XII) – Claudino de Almeida;
5 (XII) – Joaquim de Almeida;
6 (XII) – Januário de Almeida;
7 (XII) – Josefa, casada com João Bento da Silva;
8 (XII) – Maria Arcelina, casada a primeira vez com Bento da Silva Valença (filho de Ana).
             Ficou desse casamento os seguintes filhos:
- João, de nove anos de idade
- Joaquim, de sete anos de idade
- Júlio , de seis anos de idade
Nota: O tutor dos filhos de Maria Arcelina e Bento da Silva Valença foi o sogro, Jacinto Muniz de Almeida.



Outras famílias relacionadas: 

Com a família Valença veio João Bento de Oliveira, casado a primeira vez com Tereza Maria de Jesus, e, desse casamento nasceram

1 - Joaquim Dantas de Oliveira;
2 - José Bento de Oliveira., viúvo aos 25 anos ( em 10 de março de 1856, dia da morte de seu pai) Foi casado pela 2ª vez com Joana de Jesus Dantas, que poucos dias após a morte de seu esposo faleceu, já sendo paralítica, deixando os seguintes filhos menores:

 - Francisco, de doze anos;

 -  Antônio, de nove anos;

 - Francisco, de oito anos 

 - Emília, de seis anos, cujo tutor foi José Bento, seu irmão por parte de pai. João Bento de Oliveira morava na parte da terra de 600 braças com meia légua de fundo, no sítio Recanto, comprada a Francisco Rodrigues Valença.


Nota: João Bento de Oliveira era irmão do Major Bento José Alves de Oliveira, casado com Luíza Benvinda de Oliveira Valença.


Aqui chegou também Antônio Bento de Oliveira, casado com Francisca Dantas de Oliveira. Este casal possuía um sítio de terras no lugar denominado Laranjeira, na Freguesia de Quipapá, do termo de São Bento e comarca de Caruaru, adquirido por compra a Manoel de Medeiros Cabral e vendeu ao Sr. Claudino Marinho da Silva, no dia 18 de novembro de 1868.

 
Fonte: CINTRA, Ivete de Morais; FIRMINO, Padre João: PAIVA, Adalberto de Oliveira. São Bento do Una: Formação Histórica. Recife, Centro de Estudos de História Municipal FIAM, vol 19,1983. Capítulo VI.

Procurando as origens


Traçar a genealogia de uma família não é fácil, em geral não sabemos muito além de quem foram nossos avós e bisavós. Portanto, é preciso começar em algum ponto e a partir daí conectar as várias personagens e ramos familiares e, quem sabe, chegar o mais longe possível na formação genealógica da família. É o que pretendo fazer, partindo de uma informação da Ivete de Morais Cintra , que no capítulo VI do seu livro São Bento do Una: Formação Histórica (1) fala da chegada do patriarca da família Valença, casado com Cosma Caluête, e seus doze filhos em São Bento do Una (PE).

A história dos Valenças de São Bento do Una, município do interior de Pernambuco, é repleta de fatos interessantes. A começar pelos casamentos endogâmicos (entre os membros da família) e pela forma como a família se disseminhou pela região (Sanharó, Pesqueira, etc.) e se multiplicou, sendo hoje uma das famílias mais conhecidas do Nordeste brasileiro, tendo gerado nomes importantes na música, na política e em outras áreas. Outro particular são as origens cristãs-novas da família, constatadas basicamente por costumes judaicos, na maioria das vezes desconhecidos por seus praticantes.

Aliás, o sobrenome Valença foi agregado, conforme explica Ivete M. Cintra.logo no começo de seu texto. José Rodrigues da Cunha substituiu o cognome “Cunha” por “Valença”, nome de sua cidade natal, que fica na região do Minho, Norte de Portugal. 

Também é importante ressaltar uma propriedade - Baraúnas – que desde sempre esteve na família e foi palco de muitos casos. Dois acontecimentos naquelas terras me dizem respeito: o assassinato de meu bisavô, José de Holanda Cavalcanti, e o nascimento de minha mãe, Maria de Medeiros (Valença).

Sendo neta de Antônio Medeiros Valença e Leonor de Holanda Valença (primos em primeiro grau), encontro no texto referenciado de Ivete M. Cintra dois casais, filhos do patriarca dos Valença que são meus ancestrais:
  • Silvana da Conceição Valença  ou Silvana Rodrigues Valença, casada com o português Jacinto Muniz de Almeida (12) que tiveram, entre outros filhos, Claudino de Almeida, casado com Cordulina de Hollanda Valença . Estes, por sua vez, tiveram vários filhos, entre os quais, Francisco Claudino de Almeida Valença, casado com Maria Aurora  Medeiros Valença. Por fim, este último casal são os pais de Antônio Medeiros Valença.
Já aqui registro um caso de endogamia, mas não o primeiro ou o único. Antônio Medeiros Valença casou-se com uma prima em primeiro grau: Leonor de Holanda Valença, filha de sua tia Clotilde de Almeida Valença casada com José de Holanda Cavalcanti. Clotilde era irmã de Francisco Claudino de Almeida Valença.
  • O outro casal (Holanda Valença) ainda estou estudando, tentando fazer as tais conexões, haja vista o emaranhado de nomes similares, que se repetem geração após geração, uma forma de homenagear antepassados, ou até de parentes contemporâneos. Além disso, há alterações na ordem dos sobrenomes ( a precedência nem sempre é do sobrenome da mãe); sobrenomes são omitidos ou grafados de forma diferente em documentos diversos.


Fonte:  CINTRA, Ivete de Morais; FIRMINO, Padre João: PAIVA, Adalberto de Oliveira. São Bento do Una: Formação Histórica. Recife, Centro de Estudos de História Municipal FIAM, vol 19,1983. 

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Nota:  O Decreto nº 5.604/1874 regulamentou o registro civil de nascimentoscasamentos e óbitos. A partir do ano seguinte, 1875, algumas cidades brasileiras (somente os grandes municípios) deram início paulatino à crição de ofícios do registro civil, os chamados "cartórios do registro civil".

Fonte: Wikipedia